Quanto valem os CTT?

Publicado 09.11.2013, 18:17

Quanto valem os CTT? Esta será provavelmente a pergunta mais ouvida na segunda quinzena económica do mês de Novembro. Num ano onde assistimos à saída de bolsa da Brisa e da Sonaecom, à fusão da Zon com a Optimus, à fusão da PT com a Oi, a aumentos de capital e recapitalizações diversas, a OPV dos CTT tem tudo para ser o acontecimento mais relevante de 2013 na nossa praça. Nem tanto pelos montantes envolvidos mas sobretudo pelo mediatismo que previsivelmente envolverá a operação. E nem a passagem pelo PSI geral tirará glamour ao processo. Mesmo antes de serem conhecidos os contornos da operação de venda importa reflectir um pouco sobre o valor que poderíamos considerar justo para o total da operação.

Comecemos essa análise pela avaliação feita pelo grupo Urbanos, que cedo se mostrou interessado na aquisição da companhia. Este grupo avaliou os CTT numa cifra a rondar os 500-600 milhões de Euros. Vejamos, de forma superficial, alguns dados nas contas dos CTT. Em primeiro lugar, mas nem por isso pouco relevante, a dívida dos CTT tem contornos modestos se comparada com outras grandes empresas portuguesas. Como diria o Sr. Sócrates, uma dívida gerível. Assim, a dívida é um problema a menos para quem quiser comprar uma fatia dos CTT.

No que diz respeito aos lucros, o resultado líquido projectado para este ano rondará os 62 milhões de Euros, valor que está em linha com os montantes apresentados em anos anteriores.
Tem vindo a assistir-se a um decréscimo progressivo na facturação associada aos serviços postais, que representam ainda 70% dos lucros da companhia. Essa tendência não surpreende, já que o decréscimo se tem dado em todos os países do mundo civilizado, muito por culpa da comunicação por e-mail. Os CTT têm compensado essa diminuição - que pode ser um problema considerável num horizonte temporal de 5-10 anos - com o crescimento no sector expresso (correspondente a 18% dos rendimentos) e com a diminuição de custos com pessoal (muito por via da não substituição de activos nos casos de reforma).

Se olharmos para o PER dos pares europeus dos CTT poderemos especular em quanto poderá vir a ser avaliada a empresa. O Royal Mail (sim, aquela empresa cujas acções subiram 40% no primeiro dia de negociação) foi colocado em bolsa com um PER a rondar os 8. Correndo o risco de ser minimalista na análise, se olhássemos só para o PER, um valor a rondar os 8 seria o mínimo aceitável para os CTT. Se assim fosse, os CTT seriam avaliados em cerca de 500 milhões de euros. Mas, à luz das actuais cotações, o PER do Royal Mail já quase duplicou, aproximando-se do valor dos seus pares europeus (o Deutsche Post tem um PER de 15). Ficando a meio caminho, nos 12, teríamos um valor para os CTT a rondar os 750 milhões de Euros.

Analisando a capacidade de produção e distribuição de lucro aos accionistas, aspecto fundamental numa empresa madura, apontaria para uma Yield mínima de 5%. Considerando os 50 milhões de euros distribuidos em dividendos correspondentes ao ano de 2012 teríamos os CTT a valer cerca de 1000 milhões de euros. Assim, será razoável considerar (repito, sendo algo minimalista) que os CTT valerão entre 500-1000 milhões de euros. Abaixo desse nível estarão a prémio e acima dele serão demasiado caros.

Importa introduzir a contextualização política, determinante neste caso em concreto. Está, a meu ver, completamente posta de lado a possibilidade de venda abaixo da avaliação dos Urbanos - os 600 milhões de Euros. O Governo necessita de retirar dividendos políticos desta situação e quererá mostrar que zela pelos interesses do país. Para isso terá forçosamente de vender a um preço superior aos 600 milhões de euros. Considerando o actual estado de contida euforia no nosso mercado, facilmente uma OPV a 1200 milhões de euros seria um sucesso. É o que tantas vezes tem acontecido quando os privados vendem as suas empresas (se os CTT fossem avaliados com base no PER do Facebook, 215, valeriam 13 mil milhões de euros!!). Ora, não se espera isso de uma OPV por parte do Estado. Tão importante como o resultado económico é a satisfação do povo. E o governo não quer certamente ser acusado de vender caro e roubar os pequenos e ingénuos subscritores, como tantas vezes tem sido acusado Belmiro de Azevedo (eu prefiro elogiá-lo pela sua perspicácia estratégica). Tomando em consideração esta condicionante, a minha aposta pessoal vai para os 700-750 Milhões de Euros, valorização suficientemente atractiva para fazer desta OPV um sucesso e suficientemente cara para o governo se poder vangloriar de fazer excelentes negócios.

Uma nota para o custo por acção. Considerando que os CTT estão divididos actualmente em 17,5 milhões de acções, detidas a 100% pelo Estado, e apontando a valorização para os 750 milhões de euros, cada acção valeria cerca de 43€. Não sei se o Estado procederá a um stock split para diminuir o valor unitário por acção mas se não o fizer é importante desmistificar um conceito-base: valham as acções 43 cêntimos ou 43 euros, o valor para o accionista é precisamente o mesmo! A única diferença passa pelo número de acções que vai ter em carteira! Se valerem 0,43€ necessita de comprar 10x mais acções para adquirir o mesmo valor. Pessoalmente espero que os 17,5 milhões de acções sejam mantidos, já chega de penny stocks no PSI-20!

Fica por responder de forma directa a uma importante questão: "Valerá a pena comprar acções dos CTT?"... Para responder a essa fundamental questão (e até porque este post já vai demasiado longo) vou aguardar pela publicação por parte do governo da valorização final da empresa e das condições da OPV. Logo que os pormenores do processo sejam tornados públicos (provavelmente dentro de uma semana) voltarei ao tema com uma análise mais aprofundada.

Últimos comentários

A carregar o próximo artigo...
Divulgação de riscos: A realização de transações com instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve altos riscos, incluindo o risco de perda de uma parte ou da totalidade do valor do investimento, e pode não ser adequada para todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos tais como eventos financeiros, regulamentares ou políticos. A realização de transações com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir realizar transações com instrumentos financeiros ou criptomoedas, deve informar-se sobre os riscos e custos associados à realização de transações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente os seus objetivos de investimento, nível de experiência e nível de risco aceitável, e procurar aconselhamento profissional quando este é necessário.
A Fusion Media gostaria de recordar os seus utilizadores de que os dados contidos neste website não são necessariamente fornecidos em tempo real ou exatos. Os dados e preços apresentados neste website não são necessariamente fornecidos por quaisquer mercados ou bolsas de valores, mas podem ser fornecidos por formadores de mercados. Como tal, os preços podem não ser exatos e podem ser diferentes dos preços efetivos em determinados mercados, o que significa que os preços são indicativos e inapropriados para a realização de transações nos mercados. A Fusion Media e qualquer fornecedor dos dados contidos neste website não aceitam a imputação de responsabilidade por quaisquer perdas ou danos resultantes das transações realizadas pelos seus utilizadores, ou pela confiança que os seus utilizadores depositam nas informações contidas neste website.
É proibido usar, armazenar, reproduzir, mostrar, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos neste website sem a autorização prévia e explicitamente concedida por escrito pela Fusion Media e/ou pelo fornecedor de dados. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados pelos fornecedores e/ou pela bolsa de valores responsável pelo fornecimento dos dados contidos neste website.
A Fusion Media pode ser indemnizada pelos anunciantes publicitários apresentados neste website, com base na interação dos seus utilizadores com os anúncios publicitários ou com os anunciantes publicitários.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que há qualquer discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.